APERTADA
Cinco poemas para voz gravada de uma musa
I
me apresento: sou a beleza
em estado puro e não sei
ou finjo que não sei disso, será?
me propus a ler gravando a voz
se me apresento é porque me aperta
o canto e o compromisso de dizer:
caralho! eu sou linda se me vejo
esse espelho nem me faz justiça
porque não esta vendo como sou...
me vê como me veem por fora,
lábios de desejo
os uso para mim e me afofam
mas por dentro posso ser ainda mais
mais do que meus olhos de magia
que nunca serão teus se me acerta
porque hoje estou presa ao que me aperta.
II
não me ofende se me abraça
com a esperteza da casquinha
não sou sorvete mas carinho
francamente também gosto
quilos de hormônio mesmo
num amigo que me aperta...
aconchego do afeto e até amiga
também essa me estremece
mesmo quando se esfrega
só se esfrega e depois passa.
III
penso a vida com pesar
mas não faço isso todo dia: não mesmo!
prefiro as vezes nem pensar
os miseráveis que continuam na merda
os merdas que são uns puta miseráveis
fumo um ou dois e bebo
o melhor da vida é quando o efeito vem
o que relaxa me desaperta
fico a fim de mudar o mundo
enquanto isso vou tentando mudar a mim mesma
esforço infrutífero
IV
conheci um homem sábio,
desses de citar...
seus olhos sempre marejavam de me ver
me sentia um deserto
e me apertava de sal
Sandor Marat, Zizek, Bergson, Zé das Couves
eu os havia visto com Buñel, lido com Malarmèe ou não?
nosso conhecimento não se limitaria ao erudito
fui com o vinho porque tive coragem,
cheia de medo
finalmente encontrara um tarado ético,
romântico
e afinal o que esperar de mim
se ao esperar sentir
e imaginar sentir já esperava ser ?
V
estávamos depois de uma ponte bonita
talvez caminhasse
e lembrei de beber líquido
para caminhada,
cerveja boa para animar
eu falei: vamos entrar aqui?
Você quer?
“sim” ele disse,
parando de falar sobre sânscrito
me deitei nua sobre ele que me perguntou:
“como se sente, em apenas uma palavra?”
minha bexiga mais cheia do que o imaginário
já se lotara aquela altura de alfarrábios
me fez dizer mais para louca
do que pra Lorca :
“em apenas uma palavra?
- APERTADA!”
ele então me prendeu pelo olhar e pediu:
“chegamos até aqui, pelo amor de deus”
“sem desviar seus olhos de mim pediu que
escoasse meu calor líquido em afeição
sobre seu corpo...
e o aquecesse...
não conseguia de pronto,
estava tímida
mas ir vencendo aos poucos
e derramar sobre ele meu mijo quente
fez tudo o mais parecer tolo e ínfimo.
pela primeira vez
eu estava realmente
aliviada!
“eu te amo meu bebê...ele disse”
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